Árre! que vitrola é essa sô?!


externo/dia - à frente de um enorme jatobazeiro, tendo sobre suas raízes a carcaça de uma Rural cáqui; um casebre sem vizinhos, com farto quintal florido a se confundir com o mato. Galinhas da angola e comuns, patos, gansos, cães e gatos de idades e tons sortidos, além de vacas, novilhos, éguas e jumentos espalhados ao redor. Chaminé expelindo parca fumaça aos fundos. Cerca de materiais variados, reciclados ou não, com pequeno portão de madeira roída ao centro. 
     O canto de um galo fora de hora é sobreposto por latidos tímidos com a aproximação do forasteiro.

[Três palmas]    
       

                                   Ô dicasa!

      Discos me acompanham há décadas. A curiosidade musical nunca se conteve e passei por absolutamente todos os gêneros imagináveis dentro do pop, nacional e internacionalmente. Mas um ficou de fora; raiz de uma cultura toda. Sabia que estava lá, enorme! Tinha apreço, mas algum véu me impedia de mergulhar nele em profundidade, como já fizera tantas vezes.

           Isso se deu, finalmente, em 2008, depois de 20 anos em outras buscas.
           Felizmente morava na cidade que gerara a esmagadora maioria desses discos. Quase 80% deles, mesmo os gravados no interior, foram prensados pela Continental, no bairro da Mooca, região central de São Paulo.
           Ainda assim, foi preciso uma descidinha à mansão dos mortos para resgatar essa coleção. Passei milhares de horas a fio dentro de enormes galpões, garagens e sebos imundos, no mercadolivre e em intermináveis negociações de compra, trocas e escambos (reciclei muita mepebê) com colecionadores mais desapegados.

             O demônio com quem pactuei, porém, não teria magia suficiente para me pagar com o acesso a esse material todo caso eu não estivesse em São Paulo.
             Essa música, substrato de uma cultura da qual ela é sinônimo, nasceu no interior mas desde tempos imemoriais a cidade (quanta coisa!) foi tragada pela sua poética; São Paulo. (foi sempre assim, São Paulo?)

              Bem. Agora que a alma tá danada, não tem mais jeito. Resolvi por quase tudo na roda. Evoquei então o urutu-cruzeiro, hibernado desde 2012 e, em nova parceria com o estúdio Rocky do mano Paulo Paulera (valeu amigo!), reanimamos o vitrola minha vitrola. E agora, isto é, depois que a Rainha subiu, o trem tá só um pouco mais emblemático e necessário.

       E quem não ousaria dedicar essa vitrola a Inezita Barroso e Paulo Vanzolini?
       Ah! no prato giratório não vai só sertão, mas coisas que fui encontrando teimosamente (cf. miscelânea). Perdoem-me de antemão esses desvios.

Que mais?

Sei lá.

Sei lá, não sei, não.


       
 


- na capa do blog: fotografia do começo do século retratando Mariano Gomes de Araujo Lima (1855-1923), meu bisavô. Nascido em São Domingos do Prata/MG. Estabeleceu-se num distrito localizado entre as cidades de Rio Casca, Abre Campo e Jequeri. O hoje município Santo Antonio do Grama, na Zona da Mata, sudeste das Gerais, onde, anos antes, conhecera minha bisavó, Virgínia Alvarenga 'Zina' Bacellar (1876-1978). Foi na Fazenda Vargem Alegre, com sede a cerca de cinco quilômetros do centro do Grama, que o casal constitui prole de quase vinte filhos, em sua maioria mulheres. Dona Zina ainda era relativamente nova quando enviuvou, acumulando pra si o trabalho de pai e mãe alem de fazendeira, que o fez com impecável maestria e naturalidade até seus mais de noventa anos quando se muda para Belo Horizonte onde viveu 102!
Minha bisavó foi uma ecologista mais de meio século à frente do seu tempo! Preservava e amava do fundo de sua alma a densa mata atlântica que circunda a sede. Visitava diariamente, em meditação sutil, o monumental e secular arixixá (Sterculia chicha), árvore de 30 metros de altura e dezessete de diâmetro, a pouco mais de um km da sede, mata a dentro.
A Vargem Bonita, infelizmente, foi vendida, em 1979, para a usina alcooleira Jatiboca, sediada na cidade vizinha, Urucânia. A cláusula pétrea (cumprida, diga-se) do contrato de venda: que a mata não fosse tocada. Em 2006 a Mata da Dona Zina foi tombada (há um belo dossiê em PDF na internet) pela prefeitura de Santo Antonio do Grama. E, muito antes, o grupo local trazia o nome de Escola Estadual Capitão Mariano Gomes.



   posta restante: vitrolaminhavitrola@gmail.com

PAPO PRO Á

a fina palavra diamantina... disse...

Tá bem legal.
nemdetal

Tunico da Viola disse...

Olá, boa noite. Um amigo colecionador pediu que fizesse essa pergunta, se vc teria algum compacto com Raul Torres & Florenio, ele gostaria de saber se algum dia, eles gravaram compacto.

vitrolamvitrola disse...

ola Tunico! Sim Raul Torres e Florencio tem um compacto pela selo Sabiá, em 1968, com as gravações de Guerra de Poesia / Todos Pedem. Aliás ha uma cópia, com capa e tudo atualmente a venda no mercadolivre. abraço

Unknown disse...

Olá Tunico, existe ainda um compacto lançado pelo selo AU (Artistas Unidos) de Raul Torres, Florêncio & Castelinho com as músicas "O Pau Rolou (Raul Torres)" e "Cana Caiana (Raul Torres)". Abraços

a fina palavra diamantina... disse...

A foto do Capitão Mariano é linda. Está com vc? Tem autoria?
abs
btsm

vitrolamvitrola disse...

a foto tá com a família. Não acho que tenha autoria reconhecida, nem sei as medidas dela. Que mula, ein!

Ruivo Lopes disse...

olá. parabéns pelo belíssimo blog. um oásis da cultura popular brasileira no oceano da web. pergunto: é possível ouvir cada disco por postagem ou somente no link "no á" tem áudios?

vitrolamvitrola disse...

olá Ruivo, obrigado! os áudios estão no seguinte link:

https://soundcloud.com/acervo-origens/sets/acervo-lucas-magalhaes-vitrolaminhavitrola

vai lá!
grande abç!

Lucas Magalhães disse...

Olá amigos do Vitrola minha Vitrola, vocês que tem um profundo conhecimento da música sertaneja raiz, conhecem o título ou cantor(cantores) desta letra: ...foi naquela madrugada bonita que te conheci, você esta tão linda como uma Juriti. ...você me olhou, também te olhei,foi assim que o nosso amor nasceu...

Ribeirão Pires, 25 de Fevereiro de 2020

Unknown disse...

Bom Dia,
Eu Gostaria de Saber se tem Como Baixar Todas as Músicas de cada LP, pois Aqui só tem uma Música por (Solo, Dupla ou Trio), Disponível. As fotos eu Consigo Baixar todas que tem. Por isto eu Gostaria de saber para conseguir todas as Músicas dos LPs. Se For Pressiso Gastar Alguns R$(Reais). Gastarei com Orgulho. Pois todas músicas são Ótimas.
Meu e-mail é : gilveira@terra.com.br

SPRANDEL disse...

Tenho um projeto Memória Fonográfica do MS e gostaríamos de saber se teria algum fonogramas de nossos artistas que possamos fazer uma permuta digital, se puder entrar em contato meu celular é 55 99186-1747...
https://www.youtube.com/c/ProjetoMem%C3%B3riaFonogr%C3%A1ficadoMS/videos